Nanna - Fiquei unha e carne de uma burguesa rica, uma bela mulher casada com um mercador importante, jovem, bonito, bom de conversa e tão apaixonado por ela que sonhava à noite com o que ela iria querer no dia seguinte. Um dia em que eu estava com ela em seu quarto, por acaso dei uma olhada num quartinho e vi um não sei quê passar rapidamente pelo buraco da fechadura.
Antonia - O que era ?
Nanna - Espiei pelo buraco e vi um não sei quem.
Antonia - Essa é boa.
Nanna - A amiga percebeu que eu espiara, e eu percebi que ela percebeu que eu espiara. Ficamos olhando uma para a outra e eu lhe digo: "Quando é que volta seu marido, que partiu ontem para o campo ?" "Quando Deus quiser", ela respondeu, "mas, se dependesse de mim, não voltaria nunca mais." "E por quê ?", pergunto. "Pelo mau ano e a má Páscoa que Deus dê a quem disser alguma coisa. Ele não é o que pensam, juro por esta cruz", e beijou os dedos em forma de cruz. "Como não ?", digo, "Todos a invejam. De onde vem esse seu dissabor ? Conte-me, se for possível." "Quer que diga em letras de forma ? Por fora, bela viola, mas só me deixa a ver navios. Como diz o evangelho, 'nem só de pão vive o homem'." Vendo que ela tinha razão para dar e vender, digo: "Você é sábia; a vida é curta." "E, para que veja como sou sábia", disse ela, "vou mostrar minha engenhosidade." Abriu a porta do quartinho e me fez tocar com a mão um que, pelos meus cálculos, tinha a coisa maior que o corpo. E, para provar, ali mesmo, deitou-se sobre ele, e matou dois coelhos com uma só cajadada, seu forno engoliu a chaminé e se regalaram com dois assados em um só fogo. Ela disse: "Prefiro que me saibam puta e satisfeita, a honesta e desesperada."
(Trecho do segundo dia em Pornólogos I, de Pietro Aretino)
2 comentários:
Gostei, vou seguir sempre o teu blog.
REBELDE, fico feliz que tenha gostado. Fique sempre à vontade aqui.
Meus carinhos a ti.
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