Você é a Alma da boa conversa.
A pausa que costura por entre as vozes.
Silêncio de pensamento, busca, compreensão;
Silêncio de quem se importa;
Silêncio que preenche o Tudo das palavras.
Bonito é o Nada das palavras, que me toca;
Morada imaterial onde está minha audição.
E, aliás, o que é o silêncio ?
Você é a ponte entre minha fantasia e meu desejo,
O Infinito entre meu desejo e minha satisfação.
Desejo é como o fogo e satisfação é como o ar:
Se relacionam sempre em mútuo consumo.
São seu próprio início e fim entre si.
Se nunca satisfação, sempre desejo; desafio !
Se nunca desejo, sempre satisfação; tédio...
E o que há nesse Infinito ?
Nada
Você é a Música que adentra em mim sem licença;
Encontro sem procura, sem um quê;
Felicidade, então.
Meu corpo é o instrumento musical tangido por você,
Minha alma é vibração vívida em sua resposta.
E o que, enquanto lhe ouço...
Me faz sorrir, chorar, querer, sonhar ?
Me faz correr, pular, voar, gritar ?
Nada
Nossos corpos são como dias e noites,
Que nascem e morrem entre si.
Nossa união é crepúsculo, então.
Quando o tecido do tempo enruga-se, e as cores correm no céu.
Quando o Sol preme-se iridescente, iriado na siririca das águas.
Assim como o Sol é impalpável pelo mar, dentro dele,
No gozo, não há meu nem seu, dentro de nossas mentes.
E o que há entre Sol e mar ?
Nada
Você é o horizonte pra onde caminho sem chegar,
A Graça de andar sem nunca parar, nunca parar...
Se eu parasse, é porque me encontrei com tudo;
Não há mais o que me mova, porque cheguei.
Já sei, já senti, já, já, já, Tudo.
Eu quero ainda, ainda, ainda.
Eu quero o Nada, porque não o sei nem o senti.
E o que faz do horizonte inalcançável ?
Nada
Você é o Universo, tão belo, tão belo.
Beleza de Infinito;
Infinito de imaginação;
Imaginação de fantasia;
Fantasia de desejo;
Desejo de satisfação;
Satisfação de nunca.
E o Universo só é Beleza enquanto ?
Nada
Que nunca nos conheçamos,
Pois seria encontrar Tudo dentro de nós.
Que sejamos, em nós, rodeados de Nada;
Que, em presença um do outro, nunca nos saibamos.
Não sei quem sou, nem quero saber;
Não sei quem é você, nem quero saber.
Se os souber, não haverá mais porquê.
Acredito que no Amor nos joguemos véus de
Nada
O ouvi, ouvia
Uma outra voz
Como que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós.
Ouvi-te e ouvi-a
E diferentes
Juntas cantar.
E a melodiaQue não havia,
Se agora a lembro,
Faz-me chorar.
(Cancioneiro; Fernando Pessoa)
Tem mais presença em mim o que me falta.
(Livro sobre nada; Manoel de Barros)